Leitura vai, leitura vem!
Cabe tudo no Pacará
Corococó...O cantar do galo às quatro da madrugada e São João dos
Patos, tranquila, pula da cama na mesma correria de todos os domingos. Corre pro
canteiro arrancar “mói” de cheiro verde, ao gosto do cliente, pega a galinha e
o porco, faz tudo muito rápido com pressa de chegar. As luzes dos postes já
estão se apagando, o dia está amanhecendo, e o povo vai se avexando. Bota
melancia pra cá, arruma direitinho pra poder vender. Já vão chegando de todo
canto da cidade, não importa a idade é grande o alvoraçar. No meio da correria,
já começam as ofertas, o povo com tanta alegria, é hora de trabalhar! Pelejam,
as pessoas pechincham, o suor pinga no ritmo desse lugar.
Os gritos ecoam mercado adentro, dizendo que
a fruta é boa e a mais barata da redondeza. Tem a garapa do Baixão, a rede da
União, tecida no tear. Das Contendas vem a puba e o beiju de forno; tem o
tomate do Barro Branco que abastece o mercado, sem agrotóxico na plantação,
vende sem refugar. A galinha é “curiada”, e agrada o comprador, que leva pra almoçar.
Trabalhando honestamente, o povo desse
lugar, grita a manhã toda, pra vender macaxeira, o milho e o fubá. Tem o pequi,
a manga, a macaúba, a laranja e o cajá; tem o melão, o tamarindo, a fava e o
pepino; tem a tanja e o jatobá, a abobora ou jerimum, chame como quiser, tem
feijão novo, o coco e o abacaxi, o limão e a melancia grande e doce feito
mel.
O povo, ainda observando, não sabe se compra
“aqui, ali ou acolá” O feirante “do aqui” se apressa entra na frente e começa a
ofertar: “Olha o abacate, a rapadura, a farinha de puba e o tomate!”. O “do
ali” grita mais alto: “Aqui é mais barato e gostoso comprar” Olha a ata, o
mamão, o caju, o imbu e a juçara!”
“Do acolá” não perde tempo: Aqui a jaca não
é cara! E pra fazer tiquara tem buriti, pirão de farinha com o bacuri, tem
mandioca e goiaba, tem maxixe e amendoim!” O chafurdo é grande, barraca pra
todo lado, menino traquino, mercado lotado!
Vende de tudo: erva doce, canela e gengibre;
a raiz de fedegoso, tudo dessa terra; as plantas medicinais são vendidas na
“farmácia popular”, a barraca tá cheia de gente grande, pequena e “gentona” e
quando vem a dor de cabeça, a febre e a gripe de verão, tem garrafada da casca
do pau. “Tem remédio até pra levantar defunto!”, esperteza do feirante. Dia de feira,
você sabe como é!
O
tempo vai passando, o povo vai comprando, cabe tudo no pacará. O mercador vai
pelejando pra vender o que resta na barraca: “Oia a cebola!
Aproveita, que agora não tá mais
cara não!”. Aqui vende mais quem é esperto ou quem sabe ofertar. O galo foi
vendido, penca de banana, pepino e o suíno. O calor vai aumentando, tudo
comprado e embalado, o almoço se aproxima. Os mercadores ficam ansiosos pra no
final contar o apurado, depois de tudo e antes de partir, já falam em de novo
plantar, colher mais uma vez, trazer pro mercado, vender pra não sobrar. E saem
dizendo versos da vida dura: “Dinheiro muito eu não tenho, mais pouco eu tenho
é muito!”.
Agora andar na praça é o roteiro do dia, o
passadiço fica em frente ao mercado calado, que agora nenhuma cebola se vende;
não se sente o cheiro da fruta, não se ouve a gritaria dos meninos sapecas; não
se veem as barracas e a peleja do mercador, nem a correria da madrugada, só um
silencio ansioso, espera no entardecer o um novo dia.
Crônica que
consagrou João Pedro Leal medalhista de bronze e prata na Olimpíada de
Língua Portuguesa 2016.
Link do livro: https://clubedeautores.com.br/livro/depoimentos-cronicos
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